terça-feira, 3 de julho de 2007

RECENSÃO CRÍTICA

Conservation Strategies for Modern and Contemporary Art - Recent Developments in the Netherlands

Hoje em dia, ao falarmos de arte, e com o fim do Modernismo em que a obra estava “confinada” aos seus suportes tradicionais e possuía um valor de per si, independentemente de quando e de quem a tinha realizado e de onde e como estava exposta, a ligação ao artista é fundamental no sentido de se perceber a obra na sua globalidade.

Neste sentido, IJsbrand Hummelen Investigador em Conservação no ICN (Netherlands Institute for Cultural Heritage) escreveu este texto em 2005 começando por referir a crescente importância, não só de documentar as intenções do artista, como do papel dos museus na execução e na conservação da arte contemporânea. Faz uma breve (porque recente) história do que tem vindo a ser o desenvolvimento da área da conservação em arte contemporânea que recai sobre a recolha sistemática de informação necessária para garantir a sustentabilidade das obras de arte.

Constata que nos anos do pós-guerra, coincidindo também com as primeiras obras de Expressionismo Abstracto (do qual J.Pollock será o exemplo mais pertinente neste contexto) não foi dada grande importância a este tipo de informação como base para a manutenção da arte contemporânea e dá como explicação possível para esta situação, a total liberdade de escolha dos materiais e das técnicas numa permanente descoberta sendo que qualquer preocupação com a conservação das obras era vista como um obstáculo à livre criatividade. Mas, rapidamente foi verificada a vulnerabilidade de muitos materiais e a consequente perda da força e da vitalidade inicialmente conseguida nas obras. A experiência mostra que cada vez se torna mais difícil chegar a um compromisso entre a conservação do objecto material enquanto documento histórico, e a manutenção da vitalidade original da obra. A aparência original de muitos trabalhos altera-se com a passagem do tempo e alguns artistas têm dificuldade em aceitar esta discrepância entre a percepção do objecto enquanto documento histórico e a sua memória desse objecto no contexto original. Por isto, os artistas que vêm a obra não apenas como um objecto mas como um projecto, incluem no seu processo de produção um stock de objectos sobressalentes que lhes permitam mais tarde refazer a peça.

Este texto chama também a atenção para o facto de que a utilização de materiais não tradicionais exige do museu uma prática mais informal e desde 1933 que os museus holandeses especializados em arte moderna e contemporânea decidiram juntar sinergias na pesquisa de soluções para a conservação duma arte em permanente evolução, o que levou à criação em 1995 do SBMK. Os museus representados por esta entidade têm vindo a conduzir uma séria de investigações em conjunto como ICN cuja estrutura e conteúdo têm conduzido a atitudes e práticas inovadoras. O primeiro grande projecto levado a cabo por estas duas entidades foi o “Conservation of Modern Art” cujas conclusões estão descritas em pormenor na publicação “Modern Art: Who Cares?” Dada a complexidade do actual contexto da arte, bem como da diversidade dos métodos de produção e do significado dos materiais e técnicas utilizadas, a abordagem interdisciplinar da investigação parece ser a melhor estratégia a seguir no que concerne a conservação da arte, enfatizando sempre a intenção do artista e o contexto da obra, na altura de seleccionar o método de conservação. Daqui resultou o começo da cooperação internacional de museus, institutos académicos e centros de pesquisa no Projecto Internacional de Cooperação em Conservação de Ate Moderna em resultado do qual houve o Simpósio “Modern Art: Who Cares?”

Actualmente torna-se difícil delimitar onde acaba/começa a conservação de uma obra de arte contemporânea e onde /acaba começa a sua produção. Com a expansão dos novos materiais, novas técnicas e novas formas de expressão artística, não só os museus como todo o sistema artístico tiveram que se adaptar e criar novas formas de produção… e, actualmente, o papel do museu pode, deve e muitas interfere no processo de criação do artista e consequentemente na conservação da sua obra (veja-se o caso da peça de James Lee Byars realizada com cubos de cimento compactado preto que se revelou ser tão pesada que houve necessidade de distribuir o peso por um base quadrada grande. Esta decisão foi tomada por Vicente Todoli que, enquanto comissário da exposição é soberano, excepto ao artista (que neste caso tinha morrido há 6 meses). Por outro lado, o papel do museu enquanto documentalista tem vindo a tornar-se cada vez mais importante porque se é uma obra conceptual, ela pode ser refeita. E, muitas vezes, é esta documentação a única fonte para uma posterior apresentação da obra (caso de Sol Lewitt que, na sua filosofia minimalista, fornece os projectos rigorosos das suas obras a serem realizadas, muitas vezes, nos e pelos próprios museus). Esta documentação também pode funcionar como uma alternativa à conservação das obras físicas (como sugerido por Joana Vasconcelos na sua entrevista).

O autor continua a sua dissertação sobre aquilo que genericamente é apelidado de new media e que engloba arte em suporte informático, vídeo ou banda sonora, e os problemas levantados com a sua conservação e arquivo. A generalização deste tipo de suporte veio fomentar a cooperação interdisciplinar, inter instituições e inter países, o que constitui também um novo paradigma pois novos temas surgiram (por exemplo, a quem pertence, juridicamente, a propriedade intelectual da obra?), que exigem a reconsideração das premissas até há pouco aceites como universais. A fronteira entre documentação, arquivo e documentação tem vindo a revelar-se cada vez mais ténue.

Mas é um facto que o processo de recolha de informação requer novos métodos e novas técnicas de pesquisa e que, se actualmente nem o próprio artista domina todas as áreas de produção que a sua obra envolve, não se pode deixar de contar com uma equipa pluridisciplinar quando chega a altura de pensar na sua conservação.

P.S. A obra de James Lee Byars mencionada no texto não é "The Figure of Death". No entanto e na impossibilidade de postar a imagem pretendida, estamos convictos que esta ilustra bem a nossa intenção uma vez que a peça descrita é muito semlhante à "The Figure of Death" sem a base

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